existencialismo-humanismo

existencialismo

  Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi filósofo e escritor francês. "O Ser e o Nada" foi o seu principal trabalho filosófico.   Textos de Sartre: O homem primeiro existe, ou seja, que o homem, antes de mais anda, é o que se lança para um futuro, e o que é consciente de se projetar no futuro....

 

No século XVIII, para o ateísmo dos filósofos, suprime-se a noção de Deus, mas não a idéia de que a essência precede a existência. O homem possui uma natureza humana; esta natureza, que é o conceito humano, encontra-se em todos os homens, o que significa que cada homem é um exemplo particular de um conceito universal – o homem; para Kant resulta de universalidade que o homem da selva, o homem primitivo, como o burguês, estão adstritos à mesma definição e possuem as mesmas qualidades de base. Assim, pois, ainda aí, a essência do homem precede essa existência histórica que encontramos na natureza.

Que significará aqui o dizer-se que a existência precede a essência? Significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e que só depois se define. O homem, tal como o concebe o existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma coisa e tal como a si próprio se fizer. Assim, não há natureza humana, visto que não há Deus para concebê-la.

Quando se diz que o homem está sujeito a determinismos, significa que se acredita que qualquer força, seja econômica, social, ou biológica, obrigam de tal forma que ele nada pode escolher por si mesmo e com liberdade. No fundo, os defensores do determinismo afirmam que o homem é um prisioneiro de sua herança genética e um robô das pressões econômicas, que o levam a escolher a profissão, o amor, a amizade, o partido, ou uma viagem, sem nenhuma autonomia. Homens, em suas reações, seriam pouco diferentes de cobaias de laboratório.

Mas logo a existência se manifestou escorregadia: ela escapa de cada rede que a razão lança
sobre ela para capturá
-
la e estudá
-
la.
Enterrado nos escombros de um mundo que desabou, para o angustiado homem do pós
-
guerra
desvendar a vida humana transfo
rmou
-
se num questão de sobrevivência.
É por isso que os
existencialistas,
filósofos por excelência dos anos 50, se definiram como
aqueles que têm "o gosto pela evidência e o senso da ambigüidade". Daqui para frente vamos
falar de um homem assim: angustiad
o. Nele você certamente encontrará muito do conhecimento
de cada um de nós, do nosso tempo e do nosso mundo.
Os existencialistas foram muitos e de várias tendências. Alguns são considerados precursores:
Kierkegaard, Nietzsche e Husserl. Eles forneceram m
uitos dos fundamentos teóricos de Sartre.
Outros combateram na França pelos ideais existencialistas juntamente com Sartre. São eles:
Emmanuel Mounier, Gabriel Marcel, Albert Camus, Simone de Beauvoir e vários outros..
Não há propriamente o existe
ncialismo, como se fosse uma escola filosófica definida. É mais
correto falar
-
se em "clima existencialista" já que cada pensador dessa corrente tem uma
abordagem original. Mas há um núcleo de preocupações e temas fundamentais, comuns à
maioria dos existen
cialistas:
-
a razão humana é impotente para resolver todo, os problemas da existência;
-
o homem está sempre se fazendo e refazendo;
-
o ser humano é frágil;
-
a realidade nos aliena, nos toma estranhos a nós mesmos;
-
a morte é urna presença constante na vida;
-
não se pode fugir da solidão;
-
a existência é um mistério;
-

o Nada provoca o ser humano a avançar.

Os existencialistas forma particularmente sensíveis à questão da angústia humana. Seus
romances batem e rebatem nesse tema.
Eles destacam que ficamos cada dia mais ang
ustiados quando aceitamos o fato de que pertence a
cada um a liberdade de construir, pedra a pedra, a essência do próprio edifício. Toda a
responsabilidade será minha pelo êxito ou pelo fracasso desta minha cosntrução. Exclusivamente
minha.
Aí está a angús
tia que sentimos por nossas vidas, tantas vezes absurdas e marcadas para a morte.
As experiências vividas por Sartre durante as duas guerras mundiais, as perdas, as dores, as
destruições, as incertezas, certamente terão contribuído para a formação da sua f
ilosofia

explicativa
As conseqüências das guerra, das traições, do colaboracionismo de alguns franceses com os
alemães invasores, da resistência de mulheres e crianças, das torturas, da vitória, vão também
fazê
-
lo sentir vivamente a questão da responsabil
idade. Você, eu, cada um de nós contribui para
os problemas da sociedade e para sua solução.
Você já imaginou se cada um dos proprietários de automóveis de uma cidade grande como São
Paulo ou Rio resolvesse, ao mesmo tempo, sair de carro? Ninguém sairia.
Não há suficientes
metros quadrados de ruas para comportar tantos automóveis.
Moral da história: os interesses individuais devem responder ao interesse do conjunto. Daí que
ser responsável é ter de responder ao conjunto da sociedade pelas próprias ações.
Essa responsabilidade não advém do fato de termos de responder a um Deus pelos nossos atos,
mas de termos de responder perante a valores que nós mesmos construímos. E responder a todos
os homens:
Se o homem não é, mas se faz, e se, em se fazendo, assume
a responsabilidade por toda a espécie
humana, se não há valor ou moral dados a priori, mas se, em cada caso, precisamos resolver
sozinhos, sem ponto de apoio e, no entanto, para todos, como haveríamos de não sentir
ansiedade quando temos de agir? (Sartre,
J. P. O existencialismo é um humanismo. Lisboa,

Presença, s/d, p. 22